Passou um ano
Em abril de 2020 descobri que estava grávida. Em plena pandemia. Ficamos super felizes. Pensei que ia ser "a minha coisa boa da pandemia".
Engolimos a felicidade e não contamos a ninguém. Já tínhamos passado por uma experiência demasiado traumática que também afetou muito os que estavam connosco. Mas a vontade era muita, estávamos todos confinados sem saber do futuro e queríamos partilhar a felicidade com a nossa família e amigos.
Um mês depois comecei com hemorragias e fui ao hospital. Da primeira vez desvalorizaram, não "parecia nada de preocupar". Mas durante a noite, mais hemorragias, desmaio... enfim, uma noite sem fim.
De manhã voltei ao hospital. Tive de entrar sozinha. O homem ficou no carro. O resto é gélido. Não havia nada a fazer. Segurei-me como pude até ao carro. E depois até casa.
Optei por não contar a ninguém. Estavam já todos a sofrer tanto com a pandemia e não queria causar ainda mais sofrimento. Se me arrependo? Não sei. Talvez um dia destes conte. Ou não.
Hoje senti necessidade. Porque, apesar de tudo, estou aqui a escrever com a minha filha mais velha ao lado. É sem dúvida o melhor que me acontece na vida.
Mas há o outro lado. O dia da mãe também é isto. Também é sofrimento. Porque perdemos um filho, porque perdemos uma mãe ou porque nunca tivemos uma mãe.
Uma mãe de três, quem sabe um dia de quatro.